Saturday, July 22, 2006

O Coronel Valentino e Marina IV

Passaram-se várias semanas, depois da surra que o Paulo deu em Marina. Ela já falava mais parecido com o Valentino que com o resto da família. Em princípio, por troça, para imitar e caçoar do Valentino. Depois por gosto. Isso acontece. Quem presta atenção ao que fala e se preocupa em falar corretamente, acaba se deixando levar pela beleza da língua portuguesa, e aos poucos passa a falar corretamente até por hábito.
Um outro motivo era ver que o velho pai cego dela satisfeito com a filha cada vez mais instruída. Ela gostava sinceramente do pai. E começava a ver a chance de voltar a ser secretária dele, como antes do Valentino aparecer.
Se com o pai ela era um tanto mais humilde, com os irmãos e o Valentino ela vivia emburrada. Obedecia, mas só quando sabia que o velho pai estava por trás deles. Não era de jeito nenhum solícita ou prestativa. Logo depois de apanhar do Paulo ela tomava algum cuidado, mas guardando mágoa... Fazia o que precisava para não apanhar e só.
Com o tempo, ela viu que progredindo nos estudos o pai era mais camarada com ela, mais tolerante... ele também tinha saudades da Marina ao lado dele, e queria que ela voltasse logo para o lugar de secretária. Então a Marina começou a descontar nos irmãos as surras que levara. Voltou a empinar o narizinho para os irmãos. Sempre respondendo mal, quando estava de mal humor - o que era quase sempre. Ela só se sentia feliz em duas ocasiões: quando estava ao lado do pai e quando descobria nos livros alguma coisa que tinha certeza que o Valentino não sabia. Então ela comentava o que acabava de descobrir para o pai dela, geralmente na frente do Valentino, e o velho sempre comentava isso com ele. E quando ele confessava a ignorância, ela dava um risinho de desdém...
No começo o Valentino não ligava, pensando no quanto que ela já tinha ficado com o rabo inchado. Mas o tempo foi passando, ela foi ficando cada vez mais abusada e venenosa. E Valentino chegou a uma conclusão: aquela moça-donzela na fase final da adolescência precisava de duas coisas: homem e palmadas...
* * *
Enquanto o Valentino ensinava a Marina e secretariava o cego coronel Silva, que admirava a filha cada vez mais instruída, e os moços cuidavam do gado e supervisionavam as colheitas, a guerra entre os Souza e os Silva continuava. O Bento Picão havia descoberto que o jagunço Florisvaldo estava com três companheiros, pelos lados da mata de piraruçu. O Florisvaldo era um jagunço cruel, que havia participado da emboscada que deixara cego o Coronel Silva. E como Bento picão tinha contas a acertar com ele, e sabia que os meninos também queriam pegá-lo, resolveu chamá-los para a aventura. Os dois filhos do Coronel Silva, mais o Bento Picão e dois jagunços, perfazendo cinco homens, atacaram a casinha de sapé onde Florisvaldo se acoitava com parte do seu bando. Mataram todos os inimigos, o Florisvaldo mais quatro jagunços, perderam dois homens, sobraram o próprio Bento Picão e os dois filhos do Coronel Silva.
E uma moça loira.
- Qualé seu nomi, moça loira?
- Da... Daniella.
- Queim é seu pai?
A Daniella abaixou a cabeça e começou a chorar... o Bento Picão levantou o rifle para a cara dela, ela caiu no chão, de joelhos, falando:
- Olha, se vocês querem se aproveitar de mim, não vou resistir, mas por favor, não me machuquem.
- Queim pensa que somus? Num molestamus moças-donzelas. Mas queim é seu pai?
- É o... coronel Sousa...
Os homens se olharam, surpresos e um tanto incrédulos.
- Eu nunca sube qui eli tivessi tidu alguma filha...
- Cê é filha da Sinhá Magda?
- Esse era o nome da minha mãe, sim...
- Paulo, eu cunheci a mãi dela. - e depois, sussurrando baixinho ao ouvindo dos moços: - Purissu qui hoji sô inimigu du Souza...
- Si cê é filha du Sousa, purque táqui, na cabana du Florisvaldu?
- O que vocês vão fazer comigo?
- Reisponda a genti primero! U qui cê faiz na cabana du Florisvaldu?
- Eu fui seqüestrada... tenho uma lide judiciária com meu pai, o coronel Souza, daí meu pai mandou esses homens me caçar e eles mataram meu advogado e me prenderam aqui, enquanto um deles foi chamar meu pai. Mas vocês vieram, mataram eles e agora estou a mercê de vocês... Olha, daqui a pouco chega meu pai com mais homens,. É melhor saírem daqui logo... se querem se divertir comigo, seja, sou uma mocinha e vocês são três homens fortes, nada posso fazer... mas por favor, não me machuquem muito...
- ORA, CALI A BOCA. JÁ TI DISSI QUI NUM MOLESTAMUS MOÇAS-DONZELAS!
- Ela teim raizãu, Paulo! Vam'bora daqui!
- É, mais vamus levá ela cum a genti. Queim sabi si u Souza num acabará pur pagá um resgati? Istu é, si ela for mesmu filha du Souza... Vamus levá ela pur papai, pá eli dicidí u qui fazê.
E assim, a Marina ganhou uma companheira...
* * *
A Daniella não tinha o sotaque daquela região. Ela havia sido educada em um internato de moças. E não conhecia o Pai. O Velho Souza havia se casado com a mãe da Daniella e a engravidou na primeira noite. A mãe da Daniella, alguns meses depois de ter a filha, estava gostando de um jagunço do Souza: Bento Picão.
Quando o Coronel Souza soube, a Daniella tinha um ano. Ele ficou muito contrariado, mas por interesse não quis matar a mulher nem terminar o casamento - havia recebido muitos acres de terra como dote dela. Então ele resolveu assustá-la. Procurou a mulher e disse:
- Sua vagabunda seim-vegonha, eu ti dô duas iscolhas: cê somi daqui cum teu bugre, e ti dô uma pensão, ou eu ti matu.
A mãe da Daniella escolheu a segunda alternativa. Não podia enfrentar um Coronel poderoso, e a própria família dela a renegaria se soubesse da desonra... e depois não achava nada mal viver de pensão. Mas exigiu levar a filha. O Coronel Souza concordou. Ele não era muito apegado à menina, queria ter tido um filho homem. Além disso, poderia dizer, como disse, que a esposa não o desonrou nem o abandonou. Ela foi para a capital supervisionar a educação da filha deles.
Logo a mãe da Daniella viu que a pensão do Coronel Souza não dava para nada - isso quando ele mandava alguma coisa. Mas não tinha problema, ela era uma senhora jovem e bonita, podia muito bem se vender para seus novos amigos, os ricos senhores da capital. O Bento Picão voltara para a terra deles. Ele não queria dever favores a uma mulher, e muito menos ver a amante se prostituir para arranjar dinheiro para ele, era orgulhoso demais para isso. Quanto à Daniella, esta ficou num internato religioso, cheio de freiras e dirigido por um padre, onde disseram que ela era órfã. Ela nada soubera, até deixar o internato, que tinha mãe, que a mãe era de rica e respeitável família do interior, que a mãe virara prostituta na cidade grande, e muito menos que era herdeira de grandes extensões de terra...
* * *
A criança Daniella se transformou em uma adolescente, a adolescente em uma bela jovem mulher.
Até que na infância a Daniella foi uma mocinha feliz. Inocente, sapeca, sempre alegre, brincava com as amiguinhas no internato, com as bondosas freiras vigiando e controlando, e era uma criança normal. Verdade que sofria porque todas tinham pais e ela não. Conseqüência da mãe ser prostituta: ela colocara a Daniella em um internato de elite, mas em troca era amante do padre-diretor. Este impôs à amante uma condição: que ela nunca aparecesse para visitar a filha. Para todos os efeitos a Daniella seria uma órfã que estava no internato por caridade. E assim ela crescera...
A mocinha ficava no internato durante as férias, enquanto as amiguinhas viajavam com os pais. As freiras eram bondosas, mas não eram companhias para ela. A medida em que crescia ela foi ficando rebelde, teimosa, atrevida, uma mistura do temperamento do pai, cruel coronel do interior, e da mãe, cínica prostituta da capital. Por outro lado, muitas das amiguinhas de infância dela se afastaram com o tempo. Era preciso que não se metessem com a órfã, e que dessem prioridade à amizades outras moças ricas... As freiras, ou não queriam problemas com ela, ou se agoniavam por ela crescer, tão rebelde e bonita. Justamente as que mais gostavam dela mais a castigavam.
No internato, naqueles tempos, havia muitos castigos físicos. No caso da Daniella, rebelde por temperamento e pelas circunstâncias, os castigos eram freqüentes. Não prestava atenção às aulas, não obedecia aos professores... e tratava mal todas as coleguinhas, por revolta e inveja. Todas elas tinham famílias! Ela não teve quem lhe comprasse roupa, era sempre a mais mal vestida das festas, não havia quem fizesse festa para ela, nem quem lhe desse parabéns nos aniversários... Por tudo isso a Daniella vivia revoltada e por se revoltar apanhava muito de palmatória, de vara - quase sempre na palma da mão...
Com a irmã Mirian, bondosa freira que era também professora ( de homem, naquele internato, só havia o padre-diretor ), era diferente. Não que deixasse de ser rebelde e turrona, mas a irmã Mirian sabia como conversar com ela - e até faze-la mudar de idéia as vezes. O segredo da autoridade da irmã Mirian era que ela compreendia os problemas da Daniella, gostava dela sinceramente, e sabia bater também. Em vez de mandar a mocinha estender as mãos, como faziam as outras freiras, e a Daniella não obedecia, sempre era preciso que alguém, quase sempre outra freira, as vezes alguma outra aluna, segurasse a menina, a irmã Mirian sentava ela numa cadeira, conversava com ela, fazia ela entender que tinha errado, e então, dava duas opções: levantar a saia para apanhar no bumbum, ou ficar de castigo. Mas se fugisse do castigo, apanharia de vara na mão. O que a Daniella detestava mais que tudo.
Na maioria das vezes, a Daniella escolhia apanhar no bumbum. Ela não agüentaria ficar muito tempo parada num canto, era muito inquieta... ia acabar fugindo do castigo e apanhando na mão.
Então a Irmã Mirian, com uma vara de marmelo, se posicionava atrás da Daniella, a media de cima a baixo, admirando os belos cabelos loiros, depois o pescoço bem formado, os ombros bem talhados, a cintura fina, o bumbum, Ah, a Irmã tinha pena quando olhava o bumbum da Daniella, redondo, branco e durinho, que a cintura fina e logo mais embaixo as coxas firmes realçavam com delicadeza... depois as coxas, os joelhos, a batata da perna, as canelas, os pés... depois o olhar da Irmã Mirian se fixava no belíssimo bumbum.
A Irmã Mirian, como todas as freiras, sabia que a Daniella não era órfã, mas filha de uma prostituta. E justamente por isso a menina precisava, mais do que as outras, de disciplina e orientação. As outras freiras, sabendo das origens de Daniella, evitavam até mesmo olhar para a mocinha, que se sabia indesejada no internato, e pior, sem saber porque. Mas a irmã Mirian sempre estava a disposição para dar bons conselhos e algum carinho. De certa forma, até achava normal a donzela ser tão revoltada e atrevida. O estranho seria se não fosse. "Ela herdou os maus instintos dos pais. Meu dever de cristã é ajudá-la a reprimi-los!" Porque se a rebeldia era uma atitude normal, nem por isso a jovem tinha o direito de infringir as normas do colégio, ou tratar mal as freiras e as colegas, que afinal não tinham nenhuma culpa...
- O nosso direito acaba quando o direito do outro começa, Daniella! Você agindo assim, não obedecendo as regras do internato e maltratando suas colegas, está infringindo o direito dos outros.
Como a freira tinha pena, olhando o bumbum nu e belo da Daniella. Mas era preciso que a lição ficasse marcado na carne, ao mesmo tempo que na consciência. Por isso ela preferia a vara de marmelo, que não deixava marcas, ardia muito tempo mas não doía tanto assim. Por isso também preferia que a surra fosse no bumbum, onde não havia riscos de lesões ou seqüelas permanentes.
Quando a surra começava, os golpes eram muito fortes e rápidos. O bumbum da Daniella se coloria rapidamente de fios vermelhos dentro de faixas rosas. Depois, a medida em que o bumbum passava de branco a rosa com fiapos vermelhos, a Irmã Mirian passava a bater mais devagar, olhando bem, para não bater no mesmo lugar duas vezes. Isso levava poucos minutos, geralmente menos de quinze. Depois da surra a Daniella ficava de castigo com o bumbum de fora, em um canto do quarto da Irmã Mirian.
Estas surras deviam ser em segredo. As outras freiras e alunas não tinham permissão para ver a Daniella ser castigada no bumbum, embora as alunas morressem de curiosidade. A irmã Mirian tinha muita autoridade entre as moças, e as proibia de ver o Daniella de castigo, ou durante a surra. Uma vez a irmã Mirian surpreendeu duas moças espiando a Daniella por um buraco na parede. Então mandou chamar a Daniella.
* * *
A Daniella entrou na sala da diretoria e levou um susto. Duas alunas, justamente as das duas famílias mais ricas, estavam ajoelhada numa cadeira, com a saia levantada e as calcinhas arriadas. A Daniella se surpreendeu com a cena, ela era esnobada horrivelmente pelas duas... então a irmã Mirian falou:
- Daniella, estas duas espiaram você ser castigada ontem de vara, contrariando minhas ordens. Hoje, você vai assistir as duas serem castigadas. Sente-se nesta cadeira por uns minutos, por favor.
- Não, irmã Mirian, na frente dela não!
As riquinhas tremiam de medo, e morriam de vergonha de estarem com os bumbuns de mocinhas diante dos olhos da Daniella e da irmã Mirian. Logo elas, que viviam arrogantes por causa da riqueza de suas famílias, e achavam que nunca iriam apanhar na vida - tinham mesmo orgulho de dizer para as coleguinhas que nunca haviam apanhado! Elas achavam que a vergonha doía mais que a surra que iam levar, mas logo mudariam de opinião...
- Na frente dela sim! Vocês não gostaram de ver ela apanhar? Então não reclamem dela ver vocês duas apanhando!
A Daniella se sentou, numa almofada, afinal ela tinha apanhando no da anterior, e muito comodamente se pôs a assistir o espetáculo. Elas gelaram quando ouviram, da direção da Daniella, uma risadinha de desdém, igual a que elas costumavam dar quando a Daniella, a órfã pobretona e revoltada, passava perto delas...
ZAPT
A primeira varada pegou as duas ao mesmo tempo. Elas estavam com os bumbuns lado a lado, de forma que a irmã Mirian podia bater nas duas com um golpe só. A Daniella estava muito interessada, não só porque eram duas riquinhas metidas a besta, como também porque queria ver como o bumbum dela quando apanhava de vara, afinal de contas.
ZAPT, ZAPT, ZAPT, ZAPT....
Era assim: um assobio fino, depois pousava num bumbum: ZAPT. Ora o bumbum de uma, ora o de outra, as vezes de ambas...
ZAPT, ZAPT, ZAPT...
O lugar onde a vara atingia ficava vermelho, e ao redor surgia uma faixa rosa, como o bumbum da própria Daniella. As riquinhas começaram a chorar, e a Daniella pensou: "Molengas! Eu apanho muito mais que elas há muito mais tempo, e nunca deixo escapar uma lágrima!"
ZAPT, ZAPT, ZAPT...
As duas choravam alto, e a irmã então resolveu começar um sermão mas sem deixar de bater:
- Pensam ZAPT que ZAPT não ZAPT sei ZAPT como ZAPT vocês ZAPT vivem ZAPT dando ZAPT uma ZAPT de ZAPT mimadinhas ZAPT para ZAPT cima ZAPT de ZAPT Daniella ZAPT? ZAPT Pensa ZAPT que ZAPT não ZAPT sei ZAPT que ZAPT vocês ZAPT se ZAPT acham ZAPT muito ZAPT superior ZAPT a ZAPT Daniella ZAPT e ZAPT as ZAPT outras ZAPT colegas ZAPT? ZAPT Mas ZAPT saibam ZAPT isso ZAPT, ZAPT quem ZAPT faz ZAPT coisa ZAPT errada ZAPT, ZAPT pode ZAPT ser ZAPT filha ZAPT de ZAPT rainha ZAPT ou ZAPT de ZAPT empregada ZAPT, ZAPT tem ZAPT seu ZAPT castigo ZAPT neste ZAPT internato ZAPT! FUI CLARA?
As duas riquinhas só faziam chorar, gemer e responder com humildade:
- Sim senhora... ai!, sim... ai!, foi clara... ai!, MAS PARA, ai, ai, ai...
Quando a surra delas acabou, elas ficaram ainda ajoelhadas de castigo. Baixaram as saias para tampar os bumbuns, mas ao tocar o tecido a pele ardeu e elas fizeram uma careta de dor. A irmã Mirian disse então:
É melhor vocês ficarem com seus bumbuns ao vento, enquanto estiverem de castigo. Assim, arde menos.
Quanto a Daniella, ela havia saído da sala com o fim da surra, e agora voltara com um pote de creme na mão:
- Olha, este creme meu é ótimo para um bumbum que acabou de apanhar de vara. Falo porque sei. Se quiserem, eu passo em vocês.
- IRMÃ, A DANIELLA ESTÁ ZOMBANDO DA GENTE!
- Não estou não, irmã Mirian, minha intenção é boa!
- Eu acredito, Daniella. Não ligue para elas não, elas estão nervosas... fique aqui, que eu acho que elas vão mudar de idéia...
Cinco minutos depois, uma delas se desculpou e muito humildemente pediu para a Daniella passar o tal creme nela, pois a ardência era realmente muito grande. A Daniella passou o creme com todo o cuidado, pegando bem de leve nas partes mais feridas. E pensou que até que a riquinha não tinha um bumbum muito feio, pelo contrário, era redondo e macio...
A outra preferiu dar uma de durona, e embora estivesse louca para que alguém aliviasse o bumbum dela, o orgulho não a deixou se humilhar para a Daniella. Esta se chamava Márcia. A que a Daniella medicou se chamava Marta. A Marta acabou ficando amiga da Daniella, mas a Márcia sempre virava a cara, de raiva, quando a Daniella aparecia. Bom, melhor isso que riso de desdém...
* * *
Graças a irmã Mirian, a Daniella pode refrear sua revolta, e recuperou algumas amizades entre as alunas. Havia algumas moças de bom coração, nem todas eram esnobes cínicas. E afinal, ela era uma mocinha inteligente, apesar de tudo. Sempre tirara boas notas nas provas, e muitas moças a admiravam de verdade. A irmã Mirian dizia sempre que a Daniella parasse de se lamentar, que a vida não tinha só coisas ruins, e se ela fosse uma pessoa boa e temente a Deus, poderia também encontrar boas pessoas na vida dela. As boas lições da irmã Mirian, o amor mais a disciplina, criaram raízes profundas na alma da Daniella, e foram a boa semente que um dia haveria de dar bons frutos. Como o amor do velho coronel Silva pela Marina, junto com umas palmadas de vez em quando, acabaram por fazer dela uma mulher de muitos méritos, apesar da Marina ser tão turrona e abusada quanto a Daniella...
A Daniella nunca na vida se esqueceu do dia em que completou dezesseis anos. O internato sempre comemorava os aniversários de suas alunas, mas ela nunca teve uma festa, porque o padre diretor não queria chamar a atenção para a filha de sua amante...Ela andava deprimida pelos cantos, chateadíssima, porque ninguém sequer a tinha cumprimentado... e todas as moças de lá ganhavam festas, e presentes...
Para não ter que encontrar ninguém, ela se isolava nos cantos, evitava as pessoas... e uma colega dela então apareceu para dizer que a irmã Mirian queria falar com ela. A Daniella foi emburrada, achando que devia ser por alguma arte. .. quando entrou no quarto estava tudo escuro, ela ficou com medo... então falou meio baixinho:
- Irmã Mirian?
E as luzes se acenderam. A irmã Mirian, com algumas alunas, tinha preparado uma festa para a Daniella. Havia bolos, sucos, e até musica... naquele dia, ela chorara de alegria. Muitos anos depois, casada com o Paulo, a Daniella ainda falava daquele dia como o mais feliz da vida dela. E sempre disse que se ela teve uma mãe no mundo, fora a irmã Mirian.
* * *
Quando a Daniella tinha seus dezessete anos, a mãe dela terminou o caso com o padre-diretor. Ela havia fisgado um milionário argentino e deixara o pais. O "afair" deu o maior escândalo e foi comentado por toda a sociedade. O padre-diretor não quis mais que a Daniella ficasse no internato, agora ele já não tinha nada a ganhar, pois a amante o tinha deixado - e muito a perder, se o caso dele fosse descoberto, e com a filha daquela prostituta escandalosa no internato, o risco era grande. Foi a irmã Mirian que procurou a Daniella para lhe dizer, entre lágrimas, que lá ela não poderia mais ficar.
Disse a verdade, que havia sido escondida por muito tempo. Que a Daniella não era uma ófã, mas filha de uma prostituta! Que a mãe, com a cumplicidade do padre-diretor, havia abandonado a Daniella no internato! Que agora ela seria escorraçada dali, para não criar problemas para o padre-diretor!
A Daniella chorava, a irmã Mirian, porém, mantinha a cabeça fria.
- Pare de chorar, menina! Ouça com atenção: sua mãe ganhou muito dinheiro se prostituindo, eu conheço um advogado... e sua mãe também tinha família, família dela é sua, você é herdeira deles... Vamos procurar o advogado, você talvez não esteja tão mal assim...

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