Relâmpagos iluminavam o quarto assustadoramente. O som dos trovões entrava pelos seus ouvidos como vindos do inferno. Ela tremia embaixo das cobertas. Havia urinado no colchão por não ousar levantar-se para ir ao banheiro. A chuva forte batia nas vidraças enquanto lágrimas quentes escorriam molhando o travesseiro.
Era sua primeira noite naquele lugar que por tanto tempo havia temido. Sua mãe estivera doente durante vários meses e a ameaça de ser enviada ao internato era constante. Seu pai e seus irmãos não haveriam de poder educá-la. E a tragédia se deu. Sua mãe morrera e junto com ela a alegria e a liberdade de se viver com a família.
Estava agora encerrada entre aquelas quatro paredes, em uma mansão de feições rígidas, dirigida pelo preceptor D. Diogo, o qual era assessorado por professores, educadores, serventes e cozinheiras. A casa abrigava vinte e duas moças até então. Ela seria a vigésima terceira a receber a educação que seu pai acreditava ser a ideal para senhoritas.
Naquele tempo as mulheres não tinham direito algum e mesmo estando já Carolina com dezenove anos, havia de obedecer a seu pai, seus irmãos, seu preceptor e futuramente seu marido.
Receberia aulas de piano, bordado, costura, culinária, latim, matemática e ginástica. Eclesiásticos salvariam sua alma do purgatório com lições doutrinárias. Mas a disciplina, ah a disciplina...Esta seria aplicada por D. Diogo, que havia avisado seu pai do rigor das suas exigências e da aplicação sábia de bons castigos se acaso fosse necessário.
Na entrevista do dia anterior, havia se mostrado um verdadeiro gentleman, com excelentes modos e postura. Era um solteirão, já no alto de seus trinta e oito anos, alto, bonito e elegante, com uma voz seca e segura. Havia assegurado ao seu pai que Carolina só sairia dali quando estivesse pronta para o casamento. Seu noivo, Dr. Garrido, o qual ela nunca havia avistado, esperaria por ela o tempo que fosse necessário à sua educação, como os costumes da época exigiam.
Amanheceu um lindo dia de primavera. Da noite assustadora só sobrara o colchão e a camisola molhados. O que faria? Perdida em seus devaneios ouviu um barulho. Era a porta que trancada pelo lado de fora estava sendo aberta. Recebeu o olhar frio da governanta:
- Menina! Não vê que o banheiro fica a poucos metros da cama? D. Diogo não vai ficar satisfeito em saber que recebeu uma Maria mijona em sua casa...Trate de se lavar, de se arrumar e se pentear para o café da manhã que não tarda. Você tem quinze minutos para se aprontar e descer ao salão das refeições, pois o café será servido exatamente às 6h30 e seu mentor não suporta atrasos. Apresse-se!
Sentou-se à mesa onde o silêncio se fazia presente. Suas colegas de moradia não se mostraram nem um pouco contentes com sua presença e ela não recebeu nem um sorriso de boas-vindas.
Sentindo enorme desgosto, não pode engolir a refeição. Quando receberam a ordem de levantarem e se dirigirem às aulas, foi-lhe dado um recado de que deveria apresentar-se ao gabinete de D. Diogo imediatamente.
Timidamente adentrou ao escritório, com as faces rubras, já imaginando o motivo de tal consulta.
D. Diogo encontrava-se sentado atrás de sua enorme mesa de madeira negra. As cortinas pesadas, de veludo verde, davam à sala um ar de majestade. Lustres de cristal ornavam e iluminavam o ambiente revestido de um delicado papel de parede. Um tapete grosso revestia o centro da sala aquecendo-a.
Calmamente ele se levantou, pousou sua caneta no tinteiro, dirigiu-se a um canto e ficou observando um quadro na parede enquanto dizia:
- Levante suas saias e abaixe suas calças. Algo de muito estranho ocorreu com o coração de Carolina. Um súbito tremor subiu pelas suas pernas. Com certeza não havia ouvido corretamente a ordem. Não podia ser...
- Cooocomo senhor?
Ele virou-se bruscamente e a fulminou com os olhos e repetiu com a voz já alterada:
- Eu disse para levantar as saias e abaixar as calças!!
Enquanto obedecia a ordem não pode evitar se lançar num choro convulsivo.
- Não lamente minha cara. Ao contrário. Agradeça por ter alguém que se importa com suas atitudes quer ver você uma mulher educada. E agora se curve.
Dirigiu-se à estante, abriu lentamente uma das portas e retirou de lá uma chibata. Arremessou vários golpes naquela bunda antes pálida e virgem.
Quando se sentiu satisfeito chegou bem perto e sussurrou no seu ouvido:
- Espero que não mais molhe o seu colchão e nem deixe de tomar suas refeições. Vista-se e vá para as suas aulas que já está atrasada.
Percebeu o risinho no canto dos lábios das outras meninas e o olhar sarcástico da professora de bordado ao entrar meio mancando na sala. Não pode se concentrar nas lições. Mesmo sua cadeira sendo acolchoada a dor era insuportável e não havia de conseguir parar de chorar por muito tempo. A professora, percebendo a situação, tocou um sininho. Uma empregada apareceu recebendo o bilhete que dizia:
Caro D. Diogo
Não vejo como posso administrar minha aula de maneira a alcançar meus objetivos junto as educandas, tendo em minha classe a presença de uma jovem chorona e desinteressada.
Queira, pois o Sr., tomar providências.
Ass. Dona Gertrudes.
Logo voltava a empregada com ordem de acompanhar a menina até o porão. Lá chegando, retirou todas as vestes de Carolina e abandonou-a na escuridão. Arrepiada de frio e de medo, horas depois, percebeu a entrada de alguém, mas não pode identificar o vulto que se aproximava, até sentir na sua nuca um hálito fresco. Era ele que a rondava e dizia:
- Contenha suas lágrimas nesta casa. Ninguém aqui está disposto a ouvir seu lamurio. E saiba que eu tenho razão quando digo que estas cenas só tendem a piorar as coisas pra você. Estenda suas mãos.
A palmatória veio violentamente ferir-lhe. Gritou desesperadamente ao que, ele lhe tapou a boca. Prefere apanhar na bunda?
Uma gota fria de suor escorreu dos seus cabelos.
Prendeu seus pulsos com uma mão e com a outra desferiu palmadas ardidas nas suas nádegas.
E assim passaram-se os meses. Ela havia aprendido rapidamente a se comportar de acordo com as regras daquele lugar. Mas, dentro de si, mesmo com toda a sua ternura, não podia evitar um fogo que lhe invadia as entranhas, o qual pensava ser rebeldia. Um ardor que lhe subia pelas pernas, um estremecimento do seu ventre, uma umidade íntima, cada vez que avistava o seu tutor ou mesmo quando pensava nele. Era um misto de temor e respeito.
Há muito que ele não lhe dirigia nenhum castigo, o último fora por um acesso que teve ao encontrar Carolina a ler um livro de poesias impróprio para mulheres. Um empregado havia sem propósito guardado em lugar errado a obra.
A menina, mesmo na inocência da proibição, pagou cara a leitura. D. Diogo havia surrado a bunda dela com seu chinelo de couro, deitada em sua cama e despida da cintura para baixo.
A lembrança desta e de outras reprimendas, vinha-lhe todas as noites em forma de suor e de insônia.
Um dia de domingo, após os serviços espirituais, foram todos os moradores da casa a um piquenique num bosque, junto a um riacho perto da mansão. A cozinheira havia preparado quitutes e ajeitado frutas deliciosas para o lanche. Fora a primeira vez que Carolina vira D. Diogo com um sorriso menos rígido nos lábios e apaixonou-se. Daquele dia em diante não o tirou mais dos pensamentos.
Queria se aproximar e quebrar-lhe o gelo. Mas como? Ao ter uma idéia que lhe pareceu boa, não titubeou em aprontar a cena. Durante a aula de ginástica fez-se de adoentada e impotente para os exercícios. Pensou que D. Diogo seria informado e viria salvá-la do distúrbio. Mas qual o quê. No seu lugar chegou o médico, Dr. Custódio, velho e gordo, esbaforido e sem paciência, que mandou levarem-na ao seu quarto.
Em gestos bruscos examinou-lhe a garganta, ouvidos, ventre. Meteu-lhe a mão grosseira pelo corpo, violando suas decências. Mandou pedir uma bacia com água quente e álcool.
Foi com os olhos bem abertos de terror que ela o assistiu a preparar uma enorme seringa de vidro, com uma agulha reluzente e grossa. Tentou dizer-se bem melhor, que não havia necessidade de tal tratamento ao que o velho rabugento nem se deu ao trabalho de responder.
Neste instante D. Diogo entrou no seu quarto, lindo, um príncipe. Com certeza viera tirar-lhe de tal enrascada, mas enganara-se.
Sentou-se em uma cadeira e mandou que Carolina viesse ao seu encontro. Deitou-as de bruços no seu colo acolhedor. Levantou seu vestido e abaixou suas roupas íntimas. Um arrepio percorreu todo seu corpo, um líquido quente saiu pela sua vagina. O ninho era cheiroso e acolhedor, mas o motivo tenebroso.
- Acalme-se minha querida. Fique bem molinha que há de ser rápida a injeção e logo vai se sentir bem.
De relance havia espiado o aparelho cheio de um líquido oleoso, uma gotinha brilhante escorrendo pela agulha e quase desmaiou de medo. O cheiro do álcool no ar e o gelado nas suas carnes, logo após uma picada profunda e uma sensação de estar sendo rasgada por dentro...Tudo isso lhe tirou grossas lágrimas dos olhos. Sentiu-se zonza e não poderia se lembrar de mais nada após estar sendo deitada e coberta por seu amor e de sentir um beijo carinhoso na testa.
No dia seguinte estava refeita do susto e achando que valera a pena afinal. Alimentou seu coração apaixonado por vários dias daquele beijo na testa. Mas logo estava novamente Carolina querendo atenções especiais de D. Diogo. Tentou abordá-lo algumas vezes com exibições de seus trabalhos, mostra de sua cultura adquirida, mas ele apenas respondia com um sorriso apressado.
Foi-se então tornando respondona dos professores, inadimplente com suas obrigações e infiel com suas colegas, pois assim era chamada para levar bronca ou apanhar no gabinete do seu amado. Acabou por se acostumar, pois era a única maneira que achara para atrair-lhe a atenção.
Já havia apanhado de chinelo, chicote, vara, já havia ficado de castigo olhando para a parede, de joelhos no milho, trancada no quarto. Mas longe de qualquer outro castigo, ela gostava mesmo era de levar palmadas na bunda. Doía muito é claro, mas desta forma ela invariavelmente apanhava deitada confortavelmente no seu colo macio.
Por outro lado, D. Diogo desesperava-se. Nada surtia efeito na educação daquela menina faceira, doce, porém indisciplinada ao extremo. Seu pai já havia sido chamado. Interrogado dissera que desconhecia tal comportamento em sua filha.
Resolveu chamá-la então para uma conversa.
- Não queria mais bater em você, mas não lhe compreendo.
Ela em pé, com as mãos entrelaçadas frente ao corpo, cabeça baixa. Ele andando silenciosamente ao seu redor, com a chibata na mão. Ambos pensativos e com a respiração ofegante.
- Carolina, meu anjo mau, responda-me. O que devo fazer para que se corrija? Como posso receber da sua parte um comportamento decente? Fale!!! Hei de devolvê-la ao seu pai, irmãos e noivo sem conseguir educá-la? Vai me fazer passar tal vergonha?
Ela não se atreveu a responder, ele estava realmente irado e ficou com medo. Um alarme soou dentro dela. Não poderia supor ser expulsa da companhia do homem que amava.
- Fique de quatro no tapete.
Curvou-se disposta a apanhar pela última vez e comportar-se dali em diante. Ele bateu com todas as forças. Ela percebeu que muita diferença havia naquela surra. Todas as outras doeram, mas não lhe feriram. Ele estava realmente possuído de uma raiva que ela desconhecia. Gritou, pediu clemência, piedade, mas ele continuava a bater-lhe com fúria. Fazia promessas inúmeras e ele não cansava.
Só parou quando rasgou as vestimentas com o açoite e arrancou sangue das suas costas. Abandonou-a ali mesmo, chorando, suando e sangrando no tapete.
No dia seguinte estava sinceramente arrependida do seu comportamento e comprometida com mudanças. Recebeu tratamento com salmoura nos seus ferimentos, mas nada lhe doeu mais do que saber que D. Diogo havia partido em viagem longa sem se despedir.
Foram dois meses de obediência total aos seus responsáveis. Era outra moça, muito boa, porém triste.
Quando num dia muito frio ele retornou, ela recebeu-o junto com as outras moças e os serviçais, enfileirada, com lágrimas escorrendo pela sua face.
Muita saudade havia sentido e sem mais se reprimir, ajoelhou-se aos seus pés gritando:
- Bata-me! Arranque-me sangue, mas nunca mais me deixe.
Surpreendido mandou que todos se retirassem e levantou-a.
- O que é isso menina? O que significa tal escândalo logo na minha
chegada?
- Morro de amor por você.
- Mas que
atrevimento. Vou devolvê-la hoje mesmo ao teu pai.
- Não! Eu
me mato na tua ausência!
- Pare com esta blasfêmia.
-
Faça o que quiser, mas não me deixe.
Ele não mais se conteve. Fora viajar a pretexto de negócios, mas na verdade não podia mais suportar a verdade. Aquela aproximação que tinha com Carolina por causa dos castigos era para ele maior castigo do que dava a ela. Tinha na verdade vontade de rir das suas imprudências e de abraçá-la cada vez que aprontava alguma peraltice. Nutria por ela um carinho enorme, que muito cedo se transformara em paixão e desejo. Naquela noite, após açoitá-la quis fazer os curativos e dizer-se arrependido, beijá-la e por pouco não o fez. Fugiu então para se abrigar na distância.
Agora mediante aquela declaração só havia uma coisa a fazer. Puxou-a pelo braço até a sua sala, ela já se preparando para apanhar, quando ele abraçou-a com fervor e deu-lhe o beijo afogado tantas noites no travesseiro.
Casaram-se enfim. Dr. Garrido, seu ex-futuro marido assistiu a cerimônia pasmo.
Carolina muitas vezes desobedeceu a seu marido, merecendo assim muitas palmadas, ao que se seguiam horas de luxúria e prazer.
By Yara